09 setembro 2011

A LEITURA DA BÍBLIA AO LONGO DOS SÉCULOS - "A LEITURA DA BÍBLIA NOS ANOS 100 A 500 d.C."




A LEITURA DA BÍBLIA NOS ANOS 100 A 500 d.C.


Temos um novo período de desafios dentro da história do cristianismo, dentro do Império Romano o que facilitará essa evolução foi à evolução dos meios de transporte, seja por terra ou por mar, essa evolução trouxe alguns problemas e desafios para o nascente cristianismo, os que aderiam à vida cristã carregavam em si marcas e experiências do passado, com isso surgem algumas correntes dentro do cristianismo.
            Alguns chegaram até a reduzir Jesus a um ser misterioso, celestial desencarnado, mediante essa realidade a palavra de Deus foi um grande auxílio protetor para a comunidade cristã nascente.
            Neste ambiente de grande desafio surge um homem chamado Marcião que vendeu seus bens e os doou à Igreja, logo conseguira grande aceitação dentro do cristianismo, porém aos poucos foi renegando o Antigo Testamento, dizendo que o Deus presente ali era o deus do mal, então só Jesus era o Deus do bem, é o chamado “gnosticismo” de Marcião,[1] ele só valorizava o Evangelho segundo Lucas e as cartas de Paulo, menos as cartas pastorais e a dos hebreus, essas idéias tiveram certa difusão e causaram muita confusão na cabeça do povo.
            Mediante essas realidades as comunidades cristãs, lideradas por Justino e pelo bispo Irineu, começaram a tomar providências. Em um primeiro momento definiu-se a lista dos livros canônicos e sagrados, depois de muitos debates se chegou a um resultado: os livros que não entraram na lista foram chamados de Apócrifos.
            Os anos 100-300 foram marcados por grandes perseguições contra os cristãos por parte do Império Romano, porém no ano 313, acontece o edito de Milão que dá liberdade de culto ao cristianismo, um grande avanço para as comunidades nascentes:

Assim, depois de um período de dificuldades para a Igreja nascente, acrescentando as perseguições às comunidades, temos a contribuição fortificante da exegese bíblica, complementada pelo reconhecimento do Cristianismo como religião oficial do Império Romano em 313. Nesse ambiente, com o protagonismo dos Padres, a leitura da Bíblia foi orientada por duas tendências hermenêuticas bastante diversas, polarizadas em torno de dois centros cristãos, que receberam o nome de Escola Exegética e Alexandria e Escola Exegética de Antioquia (Terra, 1988, p. 72).


1.6.1        Escola bíblica de Alexandria no Egito


            Alexandria foi uma das cidades de grande importância para esse período, com sua população na maioria de origem grega, marcada pela cultura grega, uma cidade considerada grande centro cultural e de grandes estudos filosóficos, aí havia grandes escolas de crítica textual, com elas o Cristianismo pôde buscar uma grande aproximação com a cultura grega, realizando com isso uma melhor interpretação bíblica, ajudando a responder os desafios da época, por exemplo, havia muitos ainda que desprezavam o Antigo Testamento,vendo-o apenas como simbólico.
            Os seguidores da Escola de Alexandria estavam preocupados com o modo que liam a Sagrada escritura, eles liam-na como pastores e não como estudiosos afastados do povo.
            Têm-se grandes personagens nesta escola que muito contribuíram para a leitura da Palavra de Deus, tais como: Orígenes, com ele se chega a certa perfeição os avanços exegéticos e a teoria da interpretação de Clemente, convertendo a hermenêutica bíblica em verdadeira ciência; além de Eusébio de Cesaréia, Gregório de Nissa, Gregório de Nazianzo e Basílio, tendo Cirilo como o último dos grandes representantes.
            A escola de Alexandria nos mostra a necessidade de nos preocuparmos em ligar a Palavra de Deus com a Vida, tendo a leitura espiritual para alimentar a fé e a caridade dos cristãos.


A Escola bíblica de Antioquia na Síria


Em outra grande cidade do Império Romano que se localizava na Síria, nasceu uma das melhores comunidades cristãs, nela seus membros foram chamados pela primeira vez de cristãos, os autores dessa escola diziam que só se poderia tirar mensagem da Palavra de Deus a partir daquilo que está escrito, a verdade dos fatos somente seria encontrada a partir de como estava escrito.
Escola representada por Luciano de Samósata e Diodoro de Tarso, seu verdadeiro fundador. Estes são seguidos por Teodoro de Mopsuéstia, João Crisóstomo e Jerônimo.
Teodoro talvez tenha sido uns dos grandes ilustres dessa escola “Nele é característica a sobriedade com que aplica a abertura típica do sentido literal” (Artola, 1996, p. 241). Ele, porém reduziu muito o sentido messiânico dos textos do Antigo testamento.
Outro grande expoente deste período é São João Crisóstomo, grande pregador e moralista, o qual comentou um bom número de livros da Bíblia, procurando salientar as lições da vida prática desde que não estivessem em desacordo com o literal (o que o texto dissesse).
São Jerônimo é considerado como o pai da exegese bíblica, falava e escrevia em hebraico, aramaico, grego. Fez muitos estudos de crítica textual até chegar o mais perto possível do texto original. Sem dúvida São Jerônimo foi o maior exegeta dos tempos antigos. Seus estudos bíblicos marcaram profundamente a exegese e a vida da Igreja católica até a época moderna (Mosconi, 1996, p. 52).
A escola de Alexandria nos mostra o cuidado que se deve ter com o sentido alegórico da Palavra de Deus, porém faz-se necessário tomar cuidado para não se querer levar a palavra de Deus ao pé da letra, sem uma reflexão madura.


[1] O Núcleo de sua doutrina teológica era a proclamação da redenção operadora por Jesus Cristo pela misericórdia de Deus Pai. Constatando que o AT não apresentava os traços de misericórdia do Deus anunciado por Jesus, distinguiu então o Deus benévolo e Pai de Jesus, que salva livremente e por amor, do Deus vingador e iroso do AT, Senhor deste mundo. Radicalizou a oposição paulina entre a Justiça da Lei e a graça do evangelho, a ponto de distinguir duas divindades, o Deus criador que carregou o homem decaído com o jugo da Lei, e o Deus bom, compassivo, que enviou Jesus para libertar o homem do jugo da Lei. Jesus é morto justamente pelo Deus justo, vingador do Antigo Testamento (Frangiotti, 2007, p. 43).



 
Powered by Blogger