09 setembro 2011

A LEITURA DA BÍBLIA AO LONGO DOS SÉCULOS - "LIÇÕES DA LEITURA BÍBLICA DOS PADRES DA IGREJA"





LIÇÕES DA LEITURA BÍBLICA DOS PADRES DA IGREJA


Pode-se afirmar que os padres da Igreja eram homens que procuravam meditar e atualizar a Sagrada Escritura. Tendo em vista a missão de verdadeiros pastores, se preocupavam com seus destinatários, especialmente os mais pobres. “Era uma leitura atualizada e corajosa, eclesial e orante” (Mosconi, 1996, p. 52). Para além da intelectualidade, estavam cientes da necessidade do testemunho, por isso se dirigiam à Bíblia com humildade a fim de que a Palavra de Deus alcançasse seu objetivo. “A base de reflexão de fé dos Padres é a palavra de Deus; como ela se insere na vida e na história” (Bogaz, 2008, p. 31). Nesse período têm-se três formas de leitura bíblica:


Leitura a partir dos pobres


Alguns padres da Igreja se utilizam das passagens bíblicas retomando-as e inserindo-as na realidade que envolve a pobreza manifestando à solidariedade para com os pobres. Tem-se como exemplo: Santo Ambrósio, São João Crisóstomo, São Jerônimo, São Basílio, São Gregório de Nissa e Clemente de Alexandria que difundiram suas reflexões bíblicas em favor dos pobres.
“Os primeiros que têm direito ao anúncio do Evangelho são precisamente os pobres, necessitados não só de pão, mas também de palavras de vida” (VD 107).  Segundo Konings (2011, p. 110): “Os próprios pobres são agentes de evangelização. Jesus os chama bem aventurados, “porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3).
Para os Santos Padres mais gritante do que as necessidades dos pobres, “é a diferença entre a miséria dos pobres e o luxo dos ricos. Assim, ver os pobres na penúria e os ricos em fartos banquetes  é revoltante” (Bogaz, 2008, p. 150).



Leitura eclesial


      Nos primeiros séculos surge uma significativa proliferação de seitas que se referiam ao cristianismo. Várias Igrejas locais também viviam em tensões na interpretação das Escrituras. Partindo deste s fatos os Santos Padres elaboram uma leitura eclesial da Bíblia, combatendo certas leituras individualistas e desligadas da comunhão eclesial (Mosconi, 1996, p. 54). A aproximação com os detentores do poder fez com que o clero passasse de uma leitura eclesial para uma leitura eclesiástica da Bíblia: uma leitura fechada, voltada para problemas burocráticos da Igreja.

O lugar originário da interpretação da Escritura é a vida da Igreja. A referência eclesial não é um critério extrínseco, mas provém da própria realidade das Escrituras, formadas no ambiente vital das tradições de fé das comunidades. Devendo a S. Escritura ser lida com o mesmo Espírito com que foi escrita (DV 12), é preciso que os teólogos e o Povo de Deus se aproximem dela por aquilo que realmente é: Palavra de Deus (1Ts 2,13), a qual se comunica através de palavras humanas (Konings, 2011, p. 92-93).


Leitura orante


      Os Padres da Igreja praticaram e recomendaram a leitura da Sagrada Escritura como alimento para a fé, esperança e o amor. Advertiam para que a Bíblia não fosse somente lida, mas rezada. A leitura e a oração com a Palavra de Deus estão intimamente ligadas. Ela precisa ser ouvida, meditada, rezada e encarnada. “A lectio divina é uma leitura, individual ou comunitária, de uma passagem mais ou menos longa da Escritura acolhida como Palavra de Deus e que se desenvolve sob a moção do Espírito em meditação, oração e contemplação” (João Paulo II, 1994, p. 150).
A leitura orante possibilita uma profunda experiência de Deus. Trata-se de uma leitura de cunho mais existencial que racional. Como incentivadores da leitura orante pode-se citar: São Irineu de Lião, Gregório de Nissa, Clemente de Alexandria dentre tantos outros (Mosconi, 1996, p. 55). A postura dos Padres da Igreja deve levar a uma iniciativa de maior atenção e adesão ao que Deus propõe em sua Palavra.



 CONCLUSÃO


Vimos ao longo do presente texto como era realizada a leitura da Palavra de Deus ao longo dos séculos, começando pelo Antigo Testamento até o ano 500 d.C.
A Sagrada Escritura foi o texto utilizado por toda humanidade deste os primórdios servindo de ligação entre o humano e o divino.
No Antigo testamento destacaram-se alguns pontos essenciais para se compreender a leitura da Palavra de Deus, foi possível perceber que a tradição chegou até nós primeiramente por via oral - passado de geração em geração e em seguida foi colocada por escrito. O povo de Deus via nos fatos transmitidos a presença de Deus. Apresentou-se também que o povo de Deus via a Sagrada Escritura, por meio do Êxodo. A leitura feita pelos escribas no tempo de Jesus evidencia que estes oprimiam o povo mediante a lei.
Em seguida foi apresentado que o Messias é o grande anunciador do Deus- misericórdia, atualizando e apresentando o verdadeiro projeto do Pai, por isso ele foi condenado a Morte. Após a Morte de Jesus os anunciadores da Palavra foram os discípulos e as primeiras comunidades.
Temos também como grandes contribuintes da Palavra de Deus a Escola de Alexandria, que utilizava de alegorias na compreensão da Palavra, e a Escola de Antioquia, que fazia uma interpretação no sentido literal, além da valiosa interpretação dos Santos Padres da Igreja.
Sendo assim a Palavra de Deus é um livro escrito pelo povo e do povo feito por várias mãos acompanhando os sofrimentos e as alegrias do povo de Deus. A Sagrada Escritura ainda hoje é de muita importância para a humanidade e respeitada pela humanidade, pois ela reflete a história de um povo que sofre, mas que acima de tudo têm esperança e sabe que Deus caminha junto dele. Enfim o presente trabalho nos ensina que para que chegassem até nós as Sagradas Escrituras, um longo processo foi necessário. Cabe a nós hoje utilizarmos de modo correto o texto inspirado que chegou até nossos dias. Ao povo a Palavra de Deus é alimento, a nós proclamadores desta Palavra cabe o zelo, fazendo assim com que as pessoas possam se alimentar com o pão da Palavra.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1) OBRAS

ARTOLA, António M; CARO, José Manuel Sanches. A Bíblia e a Palavra de Deus. São Paulo: Ave Maria, 1996.
BEAUDE M. De acordo com as Escrituras. 2º ed. São Paulo: Paulinas, 1982.
BENTO XVI, Papa. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini. Sobre a Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2010.
Bíblia TEB (Tradução Ecumênica). Trad. L. J. Baraúna e outros. São Paulo: Loyola, 1994.
BOGAZ, A. S. Patrística: caminhos da tradição cristã. São Paulo: Paulus, 2008.
BORTOLINI, J. Introdução a Paulo e suas Cartas. 4. ed. São Paulo: Paulus, 2008.
CHARPENTIER, E. Cristo Ressuscitou. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1983.
CNBB. Crescer na leitura da Bíblia. São Paulo: Paulus, 2003. nº. 86
COLLIN M. Evangelho e tradição de Israel. São Paulo: Paulus, 1994.
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dei Verbum. Sobre a Revelação Divina. São Paulo: Paulinas, 1966.
DICIONÁRIO Bíblico Ecumênico. São Paulo: Editora Didática Paulista, s/d.
FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias. São Paulo: Paulus, 2007.
GASS, I. B. Vida e pregação de Jesus. In: Período grego e vida de Jesus. São Paulo: Paulus / CEBI, 2005. V. 6. (Col. Uma introdução à Bíblia).
GRÜN, Anselm. A Bíblia. São Paulo: Paulus, 2008.
JOÃO PAULO II, Papa. A Interpretação da Bíblia na Igreja. Pontifícia Comissão Bíblica. São Paulo: Paulinas, 1994.
KETTIERER, E.; REMAUD, M. O Midraxe. São Paulo: Paulus, 1996. [Coleção: Documentos do mundo da Bíblia nº. 9].
KONINGS, J. A Bíblia nas suas origens e hoje. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
______. A Palavra se fez livro. São Paulo: Loyola, 1999.
______. A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini. Revista Eclesiástica Brasileira. REB. Petrópolis, v. 71, fasc. 281, p.87-123, janeiro. 2011.
LIMENTANI, G. O Midraxe: como os mestres judeus liam e viviam a Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1998.
MOSCONI, Luis. Para uma leitura fiel da Bíblia. 3º ed. São Paulo: Loyola, 2002.   
ROSA, Pe. Dirlei Abércio da. Projeto do Pai. São Paulo: Paulus, 2010
SCHWANTES, M. Da vocação à provação: estudos e interpretação em Isaías 6-9 no contexto literário de Isaías 1-12. 2. ed. São Paulo: Oikos, 2008.
ZUCH, Roy B. Interpretação Bíblica. Meios de descobrir a verdade da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.

2) FONTE ELETRÔNICA:

SILVA, Andréia C. L. F. A Palestina no Século I d.C. Disponível em: <http://www.ifcs.ufrj.br/frasão/palestina.htm>. Acesso em 9 ago. 2011.


PARTE ANTERIOR DO TEXTO: A LEITURA DA BÍBLIA NOS ANOS 100 A 500 d.C.

 
Powered by Blogger