09 setembro 2011

A LEITURA DA BÍBLIA AO LONGO DOS SÉCULOS - "A LEITURA DAS SAGRADAS ESCRITURAS NAS PRIMEIRAS COMUNIDADES"




A LEITURA DAS SAGRADAS ESCRITURAS NAS PRIMEIRAS COMUNIDADES


            Em seguida à morte de Jesus, os que depositaram nele sua fé foram perturbados pela desesperança. Sua fé parecia esvair-se.
Isso poderia caracterizar, de fato, o fim das primeiras comunidades cristãs. No entanto, o evento Cristo ressuscitado fez com suas forças fossem recobradas. Pode-se dizer que elas ressuscitaram com Cristo (Konings, 1999, p. 40-41).
Aparentemente poderiam estar sonhando. Porém a vitória da vida sobre a morte não é um sonho de homens que estariam fora de si, mas que, na realidade experimentaram o fato concretamente em suas vidas, isso garante Charpentier ao afirmar que “há homens que afirmam não ser um sonho, que experimentaram estar tudo isto realizado em Jesus, que isto transformou suas vidas e continua a nos interpelar” (1983, p. 10).
Foi-lhes devolvida a esperança e a vitalidade. Mas como os primeiros crentes em Jesus mantiveram acesa a chama de sua fé? Tal pergunta parece sem resposta. Ao contrário, é possível vislumbrar um re-erguimento da fé por meio de uma releitura das Escrituras que tenha como ponto de partida o exemplo e a presença de Cristo ressuscitado.
Nesse caso, a ressurreição do mestre torna-se estímulo para a nova interpretação dos fatos da vida. A compreensão de Jesus, ou seja, o entendimento que as comunidades do início do cristianismo tinham acerca do Filho de Deus mudou drástica e positivamente.
As escrituras antigas ajudaram-nas a entender a vida inteira de Jesus (Mosconi, 2002, p. 45). Esta mesma vida torna-se estímulo e confere significado às ações do cotidiano do novo povo de Deus que vai se estruturando e se fortalecendo na fidedignidade ao Evangelho.
 Houve uma verdadeira re-interpretação dos escritos proféticos e de suas mensagens. De modo mais concreto há exemplos. Jesus fora comparado com “a criança” e com o “servo sofredor” apresentado por Isaías[1]. “Nesse caso a imagem da criança e a do servo sofredor podem ser consideradas prefiguração acerca do messias, Filho de Deus, descrita no Novo Testamento, especialmente nos evangelhos” (Schwantes, 2008, p. 103-104).
Por assim ser, esta interpretação só é possível à medida que se toma a pessoa de Jesus, sua vida e seus feitos como referência, como parâmetro para comparações. Esta é uma maneira das comunidades cristãs lançarem olhares esperançosos sobre seus futuro e situação atual.
O objetivo dessas comparações não é repetir os feitos de Jesus na vida das comunidades. Mas seu intuito é de atualizar sua caminhada de fé no, com e a partir do ressuscitado. Elas apenas aplicam a vida de Jesus Cristo ao corriqueiro de suas experiências.
Talvez por isso mesmo os quatro Evangelhos foram compilados. Cada qual a seu modo tentará responder às necessidades das comunidades às quais são dirigidos.
Por conta das dificuldades que passavam, tanto externas, quanto internas exigia-lhes esta postura de reinterpretação. Foi um processo que exigiu tempo, aceitação e reformulações (Konings, 1999, p. 40). Muitas doutrinas chegavam ao mesmo tempo em que a mensagem cristã. Isso punha em risco a fé das primeiras comunidades. Por isso um combate doutrinal era travado.
Nesse intuito Paulo escreve às suas comunidades para advertir-lhes acerca dos falsos mensageiros, aqueles que anunciavam em nome de Cristo, mas não pertenciam verdadeiramente a Ele (Bortolini, 2008, p. 77-78) e anunciavam de modo errante sua Palavra.
Seu desejo com esta defesa era evidenciar a fé em Cristo como base para a vida humana e por isso, não podia ser perdida ou cair no enfraquecimento.
O mesmo vale para as comunidades eclesiais da atualidade. Elas são formadas aos poucos e enfrentam muitas dificuldades semelhantes àquelas que perturbavam os primeiros cristãos. Contudo, a perseverança e a crença em Jesus ressuscitado são fundamentais para o reavivamento da vida comunitária.
Quanto à leitura e interpretação dos Textos Sagrados a mesma recomendação é válida: ler à medida que se realiza um encontro profundo com Jesus de Nazaré.


[1] Isso pode ser conferido nos textos de Is 53,7; 50,6; 52,14; 53,12 e também na em Is 9,5.


 
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