09 setembro 2011

A LEITURA DA BÍBLIA AO LONGO DOS SÉCULOS - "A LEITURA DAS ESCRITURAS À ÉPOCA DO ANTIGO TESTAMENTO"


POR EDPO CAMPOS, LEANDRO RIBEIRO, LUCAS CRISPIM, MARCOS CALIARI

ALUNOS DO 6º PERÍODO DO CURSO DE TEOLOGIA DA FACULDADE CATÓLICA DE POUSO ALEGRE




INTRODUÇÃO



O texto elaborado tem por objetivo apresentar a leitura da Bíblia ao longo dos séculos, desde o Antigo Testamento até o ano 500 d.E.C. Ao tratar das Sagradas Escrituras será possível notar que nós não fomos os primeiros a lê-la. Antes de nós milhões de pessoas já a leram, e ao longo dos tempos foram surgindo vários métodos de leitura. É necessário assim aprender com os acertos e com as falhas do passado.
            A Bíblia não surgiu da noite para o dia, mas foi fruto de uma longa e bonita caminhada, a qual foi sendo construída aos poucos. Desde os primórdios da história de Israel, o povo tinha o costume de conservar e valorizar as tradições e a cultura. No início, a transmissão dos fatos e tradições era feita pela tradição oral, de geração em geração. Essas tradições que foram escritas e deram origem ao Antigo Testamento, preparando a chegada de Jesus Cristo e o que seria experimentado pelo povo que com Ele conviveu ou pelas comunidades que lhe sucederam. 
            Após a morte e ressurreição, os discípulos e as primeiras comunidades, releram as Escrituras e nela encontraram Jesus Cristo como referência de toda Lei e Profecias. Entretanto, Jesus não escreveu nada, mas a experiência que os discípulos tiveram com Ele, originou o Novo Testamento. Foi uma releitura de tudo aquilo que os profetas anunciaram no caso, a vinda do Messias.
Ao longo deste trabalho teremos a oportunidade de compreender as experiências que diferentes grupos fizeram da Bíblia, numa tentativa de trazer até nós as melhores maneiras de acolher esta mensagem tão antiga e tão nova, procurando atualizar tal mensagem no momento em que estamos situados.   


OLHANDO E APRENDENDO


            A Bíblia como todos sabemos é um livro que tem uma longa trajetória de confecção, e sendo assim muitos leram tal escrito muito antes de nós. Muitos assim como até hoje buscaram o verdadeiro sentido das escrituras, tal mérito não é dos modernos, pois muitos métodos foram sendo criados ao longo da história. Claro que assim como os homens de hoje, os de outrora cometeram erros e acertos. Só lemos a Bíblia hoje, porque antes de nós houveram pessoas dispostas a se debruçar por sobre o livro sagrado! A Bíblia é fruto da grande comunhão entre Deus e os homens. Nela encontramos a Palavra de Deus transmitida para todos nós pela vida e pela palavra de milhares de homens e mulheres que viveram diversas alegrias e tristezas – construindo assim a história do povo de Deus (Rosa, 2010, p. 9). Sendo assim devemos sempre mostrar a importância de uma interpretação correta, bem como de suas implicações (Zuch, 1994, p. 31-32).

Nenhum livro no mundo é lido tanto quanto a Bíblia. A Bíblia é o livro dos livros. Os judeus vêem nos livros bíblicos do Antigo Testamento a palavra que Deus falou só para eles. Os cristãos compartilham com os judeus o Antigo Testamento. Nele, escutam a Palavra de Deus, que também para eles tem valor permanente. Mas os cristãos lêem também o Novo Testamento, em que lhes são transmitidos os quatro evangelhos, várias epístolas dos apóstolos e de outros autores bíblicos. Para eles, chega ao cumprimento e aperfeiçoamento o Antigo Testamento, através de Jesus Cristo. (...) Os cristãos lêem a Escritura para sentirem consolo na fraqueza e na falta de orientação, na escuridão e abatimento. (...) A Bíblia é mais do que a palavra humana. É a Palavra de Deus, mas esta não cai do céu. Ela é escutada por homens que traduzem em palavras suas experiências com Deus (Grün, 2008, p. 9-10)
           
Deve-se ter fidelidade ao que nos precedeu, mas não estagnação, é necessário sempre redescobrir com a ajuda de nossas experiências. Sendo assim o presente trabalho tem por objetivo olhar para o passado e ver como este nos ajuda a entender a caminhada bíblica até nossos dias. Santo Agostinho nos alerta: a “Palavra de Deus é a adversária de tua vontade até que se torne a causa de tua salvação. Enquanto tu fores teu próprio inimigo, também a Palavra de Deus será tua inimiga. Sê amigo de ti mesmo, então também a Palavra de Deus estará em harmonia contigo” (Agostinho apud Grün, 2008, p. 11). Enfim a Palavra de Deus “é uma lâmpada que resplandece na escuridão até despontar o dia e surgir à estrela da manhã em vossos corações” (2 Pd 1,19).



A LEITURA DAS ESCRITURAS À ÉPOCA DO ANTIGO TESTAMENTO


            Faz-se importante salientar que os povos antigos não escreviam a maioria daquilo que conheciam, assim, a transmissão se dava sempre por vias orais, de pai para filho, se dava de forma dinâmica, respeitando as diversas culturas, mas com semelhanças tipológicas, pois eram transmitidas por pessoas especiais e particulares como sacerdotes, cantores e poetas. Escrever era para alguns poucos, pois era algo caro. No caso da Bíblia seus fatos foram colocados por escrito muito tempo depois de terem acontecido. Nossos irmãos do passado mais do que ler, atualizavam memórias históricas e ao olhar para estas, sentiam a presença divina.
            Sendo assim nesse caminho o grande fato sem sombra de dúvidas foi o Êxodo, e a maioria dos livros do Primeiro Testamento são atualizações deste evento importante. Ele funciona como o eixo do Primeiro Testamento, pois ele é a fonte geradora de todas as futuras experiências que o povo passará. Tal evento é o referencial primordial. No Êxodo percebem-se pessoas simples, humildes, lutando por melhores condições de vida. Nesta luta aparece o rosto de Deus, que caminha com o povo.
            Na realidade de extrema opressão, o povo experimenta o amor de Deus que vem em socorro de sua gente e para isso escolhe a figura de Moisés (Rosa, 2010, p.25). Aqui vale muito lembrar a importante figura de Moisés e o trabalho que desempenhou:

O amantíssimo Deus, buscando e preparando solicitamente a salvação de todo gênero humano, por singular disposição escolheu para Si um povo ao qual confiaria as promessas. Contraída a aliança com Abraão (cf. Gn. 15,18) e através de Moisés com o povo de Israel (cf. Ex 24,8), revelou-se ao seu povo eleito por palavras e ações como único Deus verdadeiro e vivo, de tal forma que Israel pode conhecer por experiência quais os caminhos de Deus para com os homens (DV 184).

Javé torna-se um Deus que toma partido de seu povo e esta será sempre sua marca, um Deus que se antecipa, se revela e se deixa encontrar. Moisés torna-se o grande libertador de seu povo. Toda essa história começou com a ação de Deus e de um homem que foi seu instrumento de libertação (Rosa, 2010, p. 27).
Essa memória foi o que sustentou a época tribal. Neste período têm-se as importantes assembleias que foram realizadas, estas, são narradas por Josué.
            Neste panorama surgem os profetas que denunciavam o que havia acontecido com a chegada da Monarquia. Eles apontavam caminhos e mostravam a referência ao Êxodo. Os profetas foram a memória ambulante do Êxodo, a fim de defender os marginalizados; são eles que recordam a fidelidade e a exigência amável do Deus da Aliança. Segundo Rosa (2010, p. 83): Os profetas tinham a missão de “emprestar sua voz para que o próprio Deus falasse através deles”. Eles mostram que a promessa de Deus, superando as realizações precedentes, vai se cumprir novamente em favor do seu povo. Os profetas são pessoas chamadas para anunciar ao povo e aos reis, palavras de esperança e encorajamento diante das dificuldades, mas também é age como um crítico da realidade (Rosa, 2010, p.84). Assim, caminhou a história de Israel, das promessas aos cumprimentos (Beaude, 1982, p. 74).
            O livro do Deuteronômio, por exemplo, é a mostra dos vários movimentos populares de resistência que surgiram e que vivenciavam a mística do Êxodo. Os levitas registraram seu movimento neste livro. Os levitas eram missionários andarilhos que procuravam manter acesa a chama da memória de YHWH. Foi um grito diante da religião atrelada ao poder dominante. Eles questionavam em favor dos pobres.
Surge também o movimento isaiânico, em torno da memória de Isaías. Muitos se inspiraram em tal movimento, inclusive Jesus e as primeiras comunidades. Ainda houve movimentos ligados a Elias, Amós, Miquéias, aqui sempre se faz uma releitura de textos elaborados anteriormente. Por essa característica de atualizações a Bíblia realmente foi um livro em mutirão, contando a história de muitas pessoas em diversos tempos. Muitos reliam os textos antigos a luz do momento presente: um mesmo texto direcionado a luta contra um povo conquistador, podia ser relido quando a situação era semelhante (Mosconi, 2002, p. 38)
Mas ainda assim houve leituras erradas e quando certa linha fanática foi se impondo houve leituras racistas, machistas e legalistas das Escrituras antigas.
Com esse panorama da leitura dos tempos do Primeiro Testamento, é possível fazer algumas atualizações para nossos dias. Assim como naquele tempo, muitos hoje procuram vivenciar a presença de Deus que se manifesta através dos vários êxodos cotidianos: quantos irmãos nossos que vivem em situações muito difíceis e que conseguem mesmo em meio a tais momentos sentir a presença de Deus. Aos pregadores cabe a missão de mostrar ao povo, os sinais de Deus hoje. Se ele se revelou no Êxodo, ele caminha conosco hoje, mostra sua face entre nós, mas por causa do tempo em que vivemos, muitas vezes somos incapazes de ver o rosto de Deus em nossos irmãos e mais do que isso ser o rosto de Deus para eles.
Não seria hora de novos profetas surgirem a fim de denunciar as injustiças. É claro que temos profetas de nossos tempos que doam a vida em favor de um mundo melhor, mas e nós enquanto cristãos o que fazemos para denunciar e anunciar a vontade de Deus para nossas vidas? Vivemos uma crise onde todos dizem possuir uma palavra de fé, mas poucos vivem as palavras que seus lábios proferem!
Enfim qual a relação que os cristãos atuais têm a ver com o Primeiro Testamento:

Importância do Antigo Testamento para os cristãos
A “economia” do Antigo Testamento destinava-se, sobretudo a preparar, a anunciar proféticamente (cf. Lc 24,44; Jo 5,39; 1Pd 1,10) e a simbolizar com várias figuras (cf. 1 Cor 10,11) o advento de Cristo, redentor universal, e o do reino messiânico. Mas os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do gênero humano antes do tempo da salvação estabelecida por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem, e o modo com que Deus justo e misericordioso trata os homens. Tais livros, apesar de conterem também coisas imperfeitas e transitórias, revelam, contudo, a verdadeira pedagogia divina. Por isso, os fieis devem receber com devoção estes livros que exprimem o vivo sentido de Deus, nos quais se encontram sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces, nos quais, finalmente, está latente o mistério da nossa salvação (DV 15).

 
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