Por Rita de Cássia Rezende
Teóloga
Coordenadora da Pastoral de Animação Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Pouso Alegre
Meu Ipê começou a florir. Ele esperava pela chuva, certamente. Desabrochou seu amarelo ouro pra encantar a vida.
Tenho um Ipê no meu quintal. Herança de meu pai, que adorava árvores que florescem. É dele também outra herança: o flamboyant!
Eu adotei o Ipê do papai. E passei a observá-lo com os olhos do coração e da sensibilidade. Ah! Quanta coisa a aprender com a beleza que a natureza nos oferece. Oferecimento gratuito...silencioso... e ao mesmo tempo gritante.

Mais animado ainda ficou meu olhar. Observei-o atentamente e fui captando, a cada dia, as mudanças que meu Ipê se permitia. E, quanta boa surpresa tem acontecido.

O desejo das folhas é darem lugar ao amarelo ouro das flores! Elas se abdicam dos galhos do Ipê e da altura, para que o perfume, a cor e felicidade das flores, se tornem espaço de encantamento. As folhas têm seu encanto, claro. Mas elas duram o tempo de dar seu lugar a outras possibilidades.
As flores vêem tocar outra sinfonia, diferente da sinfonia das folhas. Flores...flores...tocam a sinfonia da liberdade, da ausência de fardos, da alegria, do lúdico.
O Ipê, com sua pedagogia e espiritualidade, vem ensinando-me a beleza do “transformar-me”. Que delicia saber-me com essa perspectiva: transformação é fruto da persistência que busca novas metas e novas realizações.
Posso realizar-me como folha, mas a realização da flor é a ousadia. A flor do meu Ipê é ousada, pois curta é sua existência. Ela é o avanço da folha e a canção da vida! É a razão de ser da árvore, e o colorido dos jardins. É a brincadeira da árvore e a felicidade das folhas.

Adoro os ritos. Especialmente a mudança deles e sua complementaridade! Ritos organizam e enfeitam a vida! Contam experiências vividas de relacionamentos, de amor, de encontros e saudades. De esperança e sonhos.
Minha vida quer ser liturgia a cada instante alimentada pela espiritualidade de meu Ipê. Seqüencia de ritos: árvore, galhos entrelaçados, folhas, flores. Puro sentimento, sinais e gestos. O que é real-meu momento e o que eu espero- minha parusia!